Por Clifton B. Parker
O Centro de Stanford para Educação e Pesquisas em Altruísmo e Compaixão (CCARE) constatou que a prática da meditação de compaixão pode reduzir o estado de “mente-vagante” e incentivar o comportamento de cuidado e benevolência em relação a si mesmo e aos outros.
Nesta mais recente pesquisa do CCARE, a prática da meditação compassiva pode ser um poderoso antídoto para uma mente sem foco. Os pesquisadores notaram que esta meditação se concentra em pensamentos positivos em relação a si mesmo e aos outros. Esta prática se difere das outras, já que nelas diferente neste aspecto que a maioria das formas de meditação no sentido de que os participantes são “guiados” para pensamentos compassivos.
O artigo da pesquisa, “Uma mente vagante é uma mente menos generosa”, foi publicado recentemente no Jornal de Psicologia Positiva.
“Este é o primeiro relatório que demonstra que o treinamento formal da meditação de compaixão diminui a tendência da mente vagar, enquanto aumenta o comportamento de cuidado não só para com os outros, mas para consigo mesmo”, disse James Doty, um dos co-autores do estudo, neurocirurgião da Universidade de Stanford e o fundador e diretor do CCARE (Centro de Stanford para Educação e Pesquisas em Altruísmo e Compaixão)
“Mente-vagante” é quando os seus pensamentos não permanecem em um único tópico por muito tempo. Pesquisas anteriores sugerem que, as pessoas gastam 50 por cento de suas horas de vigília em divagação mental, muitas vezes sem perceber.
Doty disse que mindfulness (prática de atenção plena) é extremamente útil no mundo de hoje cheio de distrações, como somos muitas vezes sobrecarregados e podemos ter dificuldades para atender às tarefas necessárias.
“Ao fechar os olhos e se engajar em treinar atenção através de uma prática de mindfulness (atenção plena), não só diminui os efeitos fisiológicos negativos da distração, que pode resultar em ansiedade e medo, mas pode aumentar a capacidade de atender às tarefas importantes e não ter uma resposta emocional ao diálogo negativo que é muitas vezes frequente em vários indivíduos “, disse ele.
Reforçando mindfulness
Uma maneira de frustrar, digamos assim, a divagação mental é através de práticas que melhoram a atenção plena, ou o estado de atenção de uma forma sem julgamento direcionada ao momento presente, disseram os pesquisadores.
Distinta de outras formas de meditação, o treinamento da meditação compassiva envolve o reconhecimento, e o desejo de aliviar o sofrimento nos outros e em si mesmo. Como tal, há uma ênfase sobre o foco de sua atenção sobre uma determinada pessoa, objeto ou situação, em vez de se engajar em meditação, onde não há nenhum objeto específico de foco para meditar.
“Essa diferença na técnica pode, por sua vez, levar a mudanças na divagação mental que são diferentes do observado com treinamento em mindfulness”, escreveram os pesquisadores.
Como os pesquisadores notaram, a compaixão é definida por uma tomada de consciência do sofrimento, a preocupação simpática e um desejo de ver o alívio daquele sofrimento, e uma capacidade de resposta ou de prontidão para ajudar a aliviar esse sofrimento.
O estudo examinou 51 adultos durante um programa de meditação compassiva, medindo seus vários estados de “mente-vagante” (tópicos neutros, agradáveis e desagradáveis), e comportamentos de cuidado para si e para os outros. Os participantes fizeram o programa secular de formação em meditação compassiva desenvolvido na Universidade de Stanford, que consiste em nove classes de duas horas com um instrutor certificado.
Eles foram incentivados a meditar pelo menos 15 minutos diários e, se possível, 30 minutos. Em vários intervalos, os participantes responderam a perguntas como: “Você está pensando em algo diferente do que você está fazendo atualmente?” e “Você já fez alguma coisa generosa ou de cuidado hoje para você mesmo e também para o outro?”
Os pesquisadores também deram aos participantes exemplos de “comportamentos generosos ou cuidadosos” – tais como visitar as pessoas em um lar de idosos, ajudar uma criança com a lição de casa, aprender algo novo e dizer para algum amigo, familiar ou colega de trabalho o que você aprecia sobre essa pessoa, por exemplo.
Os resultados indicaram que a meditação da compaixão diminuiu o estado de “mente-vagante” e aumentou comportamentos de cuidado para consigo mesmo.
Além disso, quanto mais os participantes se engajam na sua prática de meditação da compaixão, houve uma redução de “mente-vagante” para temas desagradáveis e aumentou a “mente-vagante” para tópicos agradáveis, ambos os quais foram relacionados aos aumentos de comportamentos de cuidado para si mesmo e com os outros, de acordo com o estudo.
A mente vagar nem sempre é problemático
Os pesquisadores dizem que o estudo é o primeiro a prestar apoio inicial que o treinamento formal em compaixão pode reduzir a divagação mental e provocar comportamentos de autocuidado e cuidado com os outros.
Doty observou que, por si só a mente vagar não é necessariamente ruim. Ao contrário de divagação mental que derivou para temas negativos ou neutros, os pesquisadores não encontraram um decréscimo em comportamentos de cuidado para si mesmo ou aos outros quando a mente vagava em tópicos positivos.
As pessoas permitem que as suas mentes vaguem, por escolha própria ou por acidente, porque às vezes produz frutos concretos – tais como, um insight intelectual ou mesmo um estado de sobrevivência.
Por exemplo, relendo uma linha de texto três vezes porque a nossa atenção se afastou do tema, pouco importa se essa mudança de atenção produziu um insight positivo ou te levou a um tema agradável. Isto contrasta com a divagação mental que desencadeia em uma avalanche de ansiedade e medo, por exemplo.
Doty observou que, um dos traços evolutivos na espécie humana é a capacidade de monitorar possíveis ameaças e imediatamente concentrar a atenção sobre a ameaça.
“Se houver muitas dessas ameaças ou, no caso de viver na sociedade moderna com tantos eventos que a pessoa sente que deve comparecer, o nosso sistema interno ao analisar tais ‘ameaças’ pode nos levar a sentir-se oprimido, ansioso e exausto”, disse ele.
Doty acrescentou que, ter uma “mente-vagante” pode ser um reflexo desta realidade onde a atenção é desviada continuamente.
Os co-autores do estudo incluem psicólogo Kelly McGonigal de Stanford; psicólogos Inho Lee e James Gross de Stanford; Thupten Jinpa, o tradutor Inglês para o Dalai Lama; Hooria Jazaieri, psicólogo da UC Berkeley; e Philippe Goldin, psicólogo da UC Davis.
Post traduzido por Mariana Rocha, original aqui: CCARE