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Inspirações para uma vida saudável.

Acalantos – Música e saúde

Por Eliseth Ribeiro Leão

É comum a gente sonhar, eu sei, quando vem o entardecer
Pois eu também dei de sonhar, um sonho lindo de morrer
Vejo um berço e nele eu me debruçar, com o pranto a me correr
E assim, chorando, acalentar, o filho que eu quero ter.
(Vinicius de Moraes e Toquinho)

 

A música é uma linguagem universal. Todavia, há uma dificuldade inerente em saber quais critérios deveriam nortear a seleção musical quando a utilizamos como um recurso complementar na área da saúde. Para tanto, há que se conhecer os elementos musicais que constituem o material sonoro que pretendemos oferecer, bem como ter clareza do objetivo terapêutico a ser alcançado. Refletir sobre o gênero ou estilo musical de cada canção pode favorecer este processo e este artigo busca contribuir nesse sentido, discutindo uma forma de expressão musical muito antiga que é o acalanto.

Os acalantos também são conhecidos como canções de ninar. São canções que empregam intervalos melódicos pequenos, ritmos bastante simples e uma quantidade grande de repetições de frases musicais, sendo consideradas apropriadas para os bebês e crianças em geral. As canções de ninar são geralmente mais lentas porque têm a finalidade de acalmar e estimular o sono.

Acalanto significa aconchego, afago. É uma variação de acalento. Significa aquecer, aconchegar ao peito, embalar, adormecer, animar, suavizar, aliviar, consolar. Portanto, guarda grande proximidade com a esfera do cuidado, em particular às crianças ou pessoas em estado de fragilidade.

Interessante notar que se trata de um canto que quando destinado aos bebês, vem acompanhado, quase que invariavelmente (quando as circunstâncias permitem), de colo, de um balanço que facilita o adormecer (por isso a referência ao ninar, que vem de aninhar nos braços). Mais do que isso, enquanto ocorre, favorece o vínculo entre quem canta e quem é embalado, pois possibilita expressão de afeto pelo tom da voz.

Ninguém sabe porque e quando começamos a cantar. Muitos arriscam a dizer que era uma forma de imitar os passarinhos. E aí mais uma vez observamos uma aspecto curioso. Acalanto é também o nome de um passarinho, o tentilhão (Fringilla coelebs), encontrado na Europa, Ásia e Norte da África (Fig. 1). Trata-se de um pássaro de pequeno porte, com cerca de 15 cm, sedentário, de coloração bastante viva e de canto mavioso atribuível a ser agradável ao ouvido, harmonioso. Diz-se de quem tem caráter suave, brando, afetuoso, compassivo.

Foto de Michael Maggs

Foto de Michael Maggs

Mas curiosidades à parte, o que a literatura científica traz sobre este assunto? Poucos estudos têm investigado o acalanto (lullaby) como intervenção. Sob o ponto de vista clínico, os ensaios clínicos randomizados, em sua maioria foram conduzidos em Unidades neonatais, em amostras que variam de 22 a 272 prematuros. Os principais desfechos estudados se relacionam principalmente à influencia do acalanto nos parâmetros fisiológicos (frequência cardíaca e respiratória, saturação de oxigênio), controle da dor em procedimentos, com resultados controversos. Um dos aspectos que mais se tem observado os benefícios do acalanto em neonatos prematuros se relaciona à melhora da sucção, o que possibilita diminuir o tempo de transição da gavagem para a sucção oral e melhorar ganho de peso.

Acreditamos que a pesquisa nessa área pode avançar e ampliar a compreensão dos acalantos em nosso meio, em particular sobre a sua utilização no ambiente hospitalar. Temos constatado na nossa experiência clínica e de pesquisa, que a música se mostra um potencial recurso complementar no cuidado à saúde em todas as fases do ciclo vital e em particular, os acalantos, parecem exercer papel fundamental nos extremos da existência, conferindo conforto em situações clínicas, em que outras intervenções e recursos, por vezes, mostram-se também limitados em sua eficácia.

 

Dra. Eliseth Leão pesquisadora do IIEP - Foto. Patrícia Sobrinho (2)

 

 

 

Por Eliseth Ribeiro Leão

Enfermeira. Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo. Pesquisadora e docente do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein. Organizadora do livro “Cuidar de Pessoas e Música: uma visão multiprofissional” (Yendis, 2009).

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http://www.einstein.br

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